MONTEIRO LOBATO
José Bento
Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, em 18 de abril de 1882 e
faleceu em São Paulo, em 04 de julho de 1948.
Quem Foi
Um dos mais influentes escritores
brasileiros do século XX, além de autor
de importantes traduções e editor de livros inéditos.
Na Literatura Infantil Brasileira, ficou
popularmente conhecido pelo conjunto educativo de suas obras, que constitui a
metade de sua produção literária.
Pioneiro na literatura paradidática, ensinando história, geografia e
matemática, de forma divertida . A outra metade consiste de contos , geralmente
sobre temas brasileiros, artigos, críticas, crônicas, prefácios, cartas, um
livro sobre a importância do ferro e do petróleo e um único romance “O
Presidente Negro/O Choque”.
Seus Primeiros Anos
Criado em um sítio, foi alfabetizado pela mãe
e por um professor particular. Aos sete anos, entrou num colégio. Descobrira os livros de seu avô materno, o Visconde
de Tremembé, dono de uma imensa biblioteca, na casa. Leu tudo que havia para
crianças, em língua portuguesa. Nos primeiros anos de estudante já escrevia
pequenos contos para os jornaizinhos de sua escola.
Em 1896, foi para São Paulo, de onde escrevia
minuciosas cartas a sua
família,
descrevendo a cidade.
Retornou a Taubaté. Em 1898, perdeu o pai e, um ano depois, sua mãe .
Tendo forte talento para o desenho, pois
desde menino retratava a fazenda do avô, tornou-se desenhista e caricaturista.
A Volta para São Paulo
Foi para São Paulo, aos 17 anos. Seu sonho
era a Escola de Belas Artes, mas por imposição de seu avô, que o tinha como um
sucessor na administração de seus negócios, cursou Direito. Mesmo assim,
colaborou em diversas publicações estudantis e fundou, com seus colegas, a
“Arcádia Acadêmica”, da qual acabou sendo eleito presidente .Colaborou com o
jornal “Onze de Agosto”, com artigos sobre teatro. Era
anti-convencional,dizendo sempre o que pensava, agradasse ou não. Defendia a
sua verdade com unhas e dentes, contra tudo e contra todos, quaisquer que
fossem as consequências.
O
Advogado
Diplomando-se , regressou a Taubaté, onde passou a
ocupar interinamente a promotoria. Dois anos depois, foi nomeado promotor
público em Areias . Casou-se com
Maria Pureza da Natividade ( Purezinha), em 1908 e teve quatro filhos:
Marta, Edgar, Guilherme e Rute.
Insatisfeito com a vida bucólica de
Areias, abriu um estabelecimento
comercial de secos e molhados. Depois, associou-se a um negócio de estradas de
ferro. Viveu no interior e nas cidades pequenas da região, escrevendo,
paralelamente, para jornais e revistas, como “A Tribuna de Santos”, a “Gazeta
de Notícias” do Rio de Janeiro e a revista “Fon-Fon” para onde também mandava
caricaturas e desenhos. Passou a traduzir artigos para o jornal “O Estado de São Paulo” e obras
da literatura universal, também enviando artigos para um jornal de Caçapava.
Contudo, estava insatisfeito com a vida que levava e com os negócios .
Com o falecimento de seu avô, tornou-se
herdeiro da Fazenda Buquira, para onde se mudou. De promotor a fazendeiro,
dedicou-se à modernização da lavoura e à criação. Ainda insatisfeito mas, dessa vez, com a vida
na fazenda, planejou explorar comercialmente o Viaduto do Chá, em São Paulo, em
parceria com um amigo.
A FAMA
Na Vila de Buquira, hoje Município de
Monteiro Lobato, envolveu-se com
política e logo a deixou de lado.
Como fazendeiro , um fato definiria de vez
sua carreira literária: cansado de
enfrentar o inverno seco daquele ano e as constantes queimadas praticadas pelos
caboclos, escreveu uma “indignação” intitulada “A Velha
Praga”. O jornal percebeu o valor daquela
carta e publicou-a fora da seção
destinada aos leitores, no que acertou, pois ela provocou polêmica e fez
com que Lobato escrevesse outros artigos
como Urupês (que se tornou seu primeiro livro), dando vida a um de seus mais
famosos personagens: Jeca Tatu, que era um grande preguiçoso, totalmente
diferente dos caipiras e índios idealizados pela literatura da época. Gerou polêmica pois o personagem era símbolo do atraso e da
miséria que representava o campo no
Brasil.
As dificuldades financeiras fizeram-no vender
a Fazenda Buquira e mudar-se para São Paulo, em 1916,com o intuito de tornar-se
um “escritor-jornalista”. Fundou uma revista em Caçapava e organizou para o
jornal “ O Estado de São Paulo” uma imensa pesquisa sobre o Saci.
Os Quatro G de 1918
Geada, Greve, I Guerra Mundial e Gripe
Espanhola.
Sobre a
geada, escreveu uma importante crônica,impressionado com a queima dos cafezais paulistas. Na
época, ainda escrevia para o jornal “O
Estado de São Paulo” e, como todos os editorialistas pegaram a gripe
espanhola, vários editoriais foram escritos unicamente por ele.
Nesse ano, comprou a Revista do Brasil e
passou a dar espaço para novos talentos,
ao lado de pessoas famosas.
Semana da Arte Moderna
Publicou “Paranoia ou Mistificação”,a famosa crítica
desfavorável à exposição de Anita
Mafaltti, que culminaria como o estopim para a criação da Semana da Arte
Moderna de 1922. Muitos passaram a vê-lo como reacionário, mas hoje, após
tantos anos, percebe-se que o que Lobato criticava eram os “ismos” que vinham
da Europa: cubismo, futurismo, dadaísmo, surrealismo, que ele achava que eram
“colonialismos”, “europeizações”, assim como ocorrera com os acadêmicos das
gerações anteriores. No entanto, reconhecia o talento de Anita. Lobato defendia
a eugenia, por acreditar que a miscigenação era fator prejudicial na formação
do povo brasileiro. Seu livro “O Presidente Negro”, descreve um conflito racial
no futuro, após a eleição de um negro para a presidência dos EUA.
O
Editor e Escritor
A Revista do Brasil prosperou e ele montou uma editora .Passou a tratar os livros
como produtos de consumo, com capas coloridas e atraentes e uma produção
gráfica impecável. Criou uma política de distribuição, novidade na época:
vendedores autônomos e distribuidores por todo país.
Fundou a Editora Monteiro Lobato & Cia .
Editou obras importantes e polêmicas como
“A Luta pelo Petróleo”.
Publicou em forma de livro “Urupês”, com
grande sucesso e alcançando grande repercussão, ao dividir o país sobre a
veracidade do caipira, fiel para alguns, exagerada para outros. Reacendeu a
polêmica, ao citar Jeca Tatu como um “protótipo do camponês brasileiro,
abandonado à miséria pelos poderes públicos”. A popularidade fez com que Lobato
publicasse “Cidades Mortas” e “Ideias de Jeca Tatu”.
Em 1920, o conto “Os Faroleiros” serviu de
argumento para um filme.
Meses
depois, publicou “Negrinha” e “A Menina do Narizinho Arrebitado”, sua primeira
obra infantil e que deu origem a Lúcia, mais conhecida como a Narizinho do “Sítio do Picapau Amarelo”.
Em
janeiro de 1921, distribuiu exemplares gratuitos do último livro nas escolas,
num total de 500 doações, tornando-se um fato inédito na indústria editorial.
Fora um pedido do presidente de São Paulo, Dr. Washington Luís, de quem era
admirador. O sucesso entre as crianças gerou continuações: “Fábulas de
Narizinho”, “O Saci”, “O Marquês de Rabicó”, “A Caçada da Onça”, “O Noivado de
Narizinho”, “Jeca Tatuzinho”, “O Garimpeiro do Rio das Garças”, entre outros.
Deixou a “Revista do Brasil”e passou a
dedicar-se integralmente à editora. A demanda pelos livros era tão grande que
ele importou mais máquinas dos Estados Unidos e da Europa. Porém, uma grave
seca cortou o fornecimento de energia elétrica e a gráfica só podia funcionar
dois dias por semana. Por fim, o presidente Artur Bernardes desvalorizou a
moeda e suspendeu o redesconto de títulos pelo Banco do Brasil, gerando um
enorme rombo financeiro e muitas dívidas ao escritor.
Lobato só teve uma escolha: entrou com pedido
de falência. Mesmo assim, não significou o fim de seu projeto editorial.
Abriu “A Companhia Editora Nacional”, em
sociedade com Octalles Marcondes e
transferiu-se
para
o Rio de Janeiro. Os produtos abrangiam
uma variedade de títulos, inclusive traduções, com enorme sucesso de público.
A partir daí, continuou escrevendo livros
infantis, especialmente com Narizinho, Dona Benta, Pedrinho, Tia Nastácia,
Visconde de Sabugosa e Emília.
Por não gostar muito das traduções dos livros
europeus para crianças e sendo um nacionalista convicto, criou aventuras com
personagens ligados à cultura brasileira, recuperando costumes da roça e lendas
do folclore.
O presidente , reconhecendo nele um representante
promissor dos interesses culturais do Brasil, nomeou-o adido comercial nos
E.U.A.,em 1927. Então, ele se mudou para New York, onde jogou na Bolsa de
Valores e perdeu tudo que tinha, com a
crise de 1929. Vendeu a Companhia Editora Nacional. Escreveu, durante sua
estadia lá, vários contos publicados no Brasil e reunidos num único volume: “As
Reinações de Narizinho”.Voltou para São Paulo, em 1931.Com a deposição de
Washington Luís e o impedimento da posse de Júlio Prestes, começa a antipatia
de Lobato por Getúlio Vargas e seu infortúnio.
O Petróleo
Implantou a “Companhia Petróleos do Brasil” e
fundou várias empresas, realizando explorações
em território paulista.
Acusado de subversivo e desrespeitoso, por
causa de uma carta escrita ao presidente, fazendo críticas à política
brasileira de minérios, foi preso, em 1941. Libertado, continuou sendo
perseguido, pois denunciou as torturas e
maus tratos praticados pelo Estado Novo. A
censura da ditadura fez com que Lobato
se aproximasse dos comunistas.
Em 1945,o livro “A Menina do Narizinho
Arrebitado”foi transformado em radionovela para crianças. Tornou-se diretor do “Instituto Brasil-URSS”
e sócio da “Editora Brasiliense”.
Fugindo da escassez que assolava o Brasil,
mudou-se para Buenos Aires, de onde voltou em 1947. A maioria de seus livros
infantis se passavam no Sítio do Picapau Amarelo. Em 1948, faleceu. Depois de
sua morte, seus livros infantis foram transformados em séries de televisão, com
sucesso.
Obras
“O
Saci”, “Fábulas”, “ Peter Pan”, “Reinações de Narizinho”, “Caçadas de
Pedrinho”, “ Emília no País da Gramática”, “Geografia de Dona Benta”,
“Aritmética da Emília”, “Serões de Dona Benta”, “O Poço do Visconde”,”Histórias
de Tia Nastácia”, “O Picapau Amarelo” etc. Alguns foram incuídos nos livros da
série “O Sítio do Picapau Amarelo”. Muitos foram compilados no volume
“Reinações de Narizinho”. Escreveu, também, vários livros para adultos.
PRINCIPAIS OBRAS
Obras Adultas
Urupês;
Cidades
mortas;
Negrinha;
Idéias
de Jeca Tatu;
A
onda verde e O presidente negro;
Na
antevéspera;
O
escândalo do petróleo e Ferro.
Obras
Infantis
Reinações
de Narizinho;
Viagem
ao céu e O Saci;
Caçadas
de Pedrinho e Hans Staden;
História
do mundo para as crianças;
Memórias
da Emília e Peter Pan;
Emília
no país da gramática e Aritmética da Emília;
D.
Quixote das crianças;
O
poço do Visconde;
Histórias
de tia Nastácia;
O
Picapau Amarelo e A reforma da natureza;
O
Minotauro;
Os
doze trabalhos de Hércules
Resumos:
Urupês
Este livro de contos, considerado por muitos a
obra-prima de Monteiro Lobato, tornou-se um clássico da literatura brasileira.
É um fenômeno sem precedentes que provoca um terremoto literário, outro
sociológico e outro político. A primeira edição, lançada em 1918, foi toda
ilustrada pelo próprio Lobato. Junto com Saci, constitui a primeira experiência
e também o primeiro êxito editorial de Lobato, financiada com recursos
próprios. A terceira edição, em 1919, esgotou-se rapidamente, devido a uma
longa referência ao Jeca Tatu, personagem central do livro, feita por Rui
Barbosa, o que ensejou uma quarta edição. Lobato brinca com o idioma, adota o
vocabulário doméstico do interior de São Paulo, cria palavras novas – como, por
exemplo, “matracolejando gargalhadas” – muitas das quais estão hoje nos
dicionários. São vários contos, retratando aspectos da realidade brasileira nos
quais denuncia, numa linguagem vigorosa, o drama da exclusão social, que ainda
persiste no Brasil pós-Lobato. “Velha Praga” é uma reportagem sobre os grandes
incêndios – as queimadas – que produzem estragos na lavoura e na economia do
País comparáveis aos de uma grande guerra. Buscando culpa, refere-se ao nosso
caboclo como “funesto parasita da terra… inadaptável à civilização”. Em Urupês,
ele contrapõe aos heróis da literatura indigenista o caboclo, o pobre Jeca,
indiferente ao desenvolvimento do País. O livro provocou muita polêmica. Lobato
mais tarde reconheceu que o retrato do caboclo era injusto, que a culpa não era
do Jeca, mas sim daqueles responsáveis pela sua miséria e abandono.
Idéias
de Jeca Tatu
No prefácio à primeira edição da Revista do Brasil,
em 1919, provavelmente redigido pelo próprio Lobato, afirma-se que “uma idéia
central unifica a maioria destes artigos” …. Essa idéia é um grito de guerra em
prol da nossa personalidade. Contém o artigo “Paranóia ou mistificação?”, uma
crítica aos modernistas, diretamente a Anita Malfatti, que provocou polêmica e
a ira dos amigos da pintora.
Ele não admitia que aqui se copiasse o que se produzia na Europa. Queria que o “vigoroso talento” de Anita produzisse coisas mais nossas. Anota o editor que nas numerosas páginas deste volume a terra aparece em suas ominadas expressões – o interior, a roça, a gente da roça, os costumes e comidas da roça. … Em Idéias de Jeca Tatu, “Monteiro Lobato aparece em mangas de camisa, integralmente ele próprio no pensamento e no modo de expressá-lo – vivo, alegre, brincalhão e com a ironia às vezes levada até à crueldade”.
Ele não admitia que aqui se copiasse o que se produzia na Europa. Queria que o “vigoroso talento” de Anita produzisse coisas mais nossas. Anota o editor que nas numerosas páginas deste volume a terra aparece em suas ominadas expressões – o interior, a roça, a gente da roça, os costumes e comidas da roça. … Em Idéias de Jeca Tatu, “Monteiro Lobato aparece em mangas de camisa, integralmente ele próprio no pensamento e no modo de expressá-lo – vivo, alegre, brincalhão e com a ironia às vezes levada até à crueldade”.
Reinações
de Narizinho
O livro-mãe, a locomotiva do comboio, o puxa-fila.
A saga do Picapau Amarelo começa. Aparecem Narizinho, Pedrinho, Emília, o
Visconde, Rabicó, Quindim, Nastácia, o Burro Falante… e o milagre do estilo de
Monteiro Lobato vai tramando uma série infinita de cenas e aventuras, em que a
realidade e a fantasia, tratadas pela sua poderosa imaginação, misturam-se de
maneira inextrincável – tal qual se dá normalmente na cabeça das crianças. O
encanto que as crianças encontram nestas histórias vem sobretudo disso: são
como se elas próprias as estivessem compondo em sua imaginativa, e na língua
que todos falamos nessa terra – não em nenhuma língua artificial e artificiosa,
mais produto da “literatura” do que da espontaneidade natural (1931).
Caçadas
de Pedrinho e Hans Staden
Pedrinho organiza uma caçada de onça e sai
vitorioso, como também sai vitorioso do ataque das onças e outros animais ao
sítio de dona Benta. Depois encontra um rinoceronte, fugido de um circo do Rio
de Janeiro, que se refugiara naquelas matas – um animal pacatíssimo do qual
Emília tomou conta, depois de batizá-lo de Quindim. Completa o volume a
narrativa feita por dona Benta das célebres aventuras de Hans Staden. Esse
aventureiro alemão veio ao Brasil em 1559 e esteve nove meses prisioneiro dos
tupinambás, assistindo a cenas de antropofagia e à espera de ser devorado de um
momento para outro. Mas se salvou e voltou para a Alemanha. Lá publicou o seu
livro: o primeiro que aparece com cenário brasileiro e um dos mais pungentes e
vivos de todas as literaturas (1933).
Bibliografia: http://monteirolobato.wordpress.com
https://www.google.com.br