“CIRANDANDO”
NÚCLEO DE CONTADORES DE HISTÓRIA
Uberlândia, 14/03/2012
Aula nº 01 - CARACTERÍSTICAS DO CONTADOR DE HISTÓRIA
1ª - Estar em boas condições de saúde.
2ª - Estar completamente disponível para o momento da contação;
3ª - Estar informado a respeito do público alvo: faixa etária, local e motivação do convite.
4ª - Conhecer profundamente as fábulas grego-romanas, os arquétipos e a mitologia grega, a literatura “infantil” recolhida na Europa, na Ásia e no oriente, a produção da indústria cultural moderna: filmes, quadrinhos, cartoons, videos, jogos, tv e internet.
5ª - Ler, reler, buscar outras versões da mesma história para ser capaz de construir e desconstruir o enredo junto com seu público, se for o caso.
6ª - Estabelecer o tempo de sua performance.
7ª - Selecionar as histórias mais pertinentes para garantir o sucesso de seu trabalho.
8ª - Preparar mais uma ou duas histórias para a eventualidade de um pedido do público.
9ª - Não improvisar. Não florear. Não esticar a história. Não colocar “cacos”.
10ª - Reler a história com antecedência para evitar lapsos de memória durante a apresentação.
11ª - Não transformar a história num instrumento de tortura.
12ª - Viver a história, como se fosse protagonista.
DA PREPARAÇÃO DO CONTADOR
1 – Figurino - Há narradores que precisam se vestir de maneira especial: palhaços, vovós, fadas, pretos velhos, fantasmas, animais, vegetais ... Outros contam sem artifício, sem maquiagem, sem bengalas, sem cadeiras de balanço,... Abrem o coração e contam. E há quem prefira apenas ler, a boa e honesta leitura em voz alta.
2 - Postura - Sentado ou de pé, o narrador oral deve estar sempre próximo do ouvinte, olho no olho. Sempre que possível, evitar o uso de microfone. Ficar ziguezagueando pelo palco pode entorpecer o público.
3 - Silêncio inicial - A história não pode começar enquanto houver conversas, cochichos, arrastar de cadeiras, janelas batendo, entre-e-sai de pessoas no recinto, composição da mesa diretora.
4 - Apresentação pessoal - Por mais reconhecido que seja o narrador oral, em respeito ao público ele deve se apresentar e anunciar a história que vai contar, sua fonte e autor, se houver. Exibir o livro que a contém valoriza ainda mais a arte literária.
5 - Voz - Proferir uma palestra, ministrar uma aula, celebrar um culto, declamar um poema, atuar numa peça, vender um produto, são atividades muito distintas, cujo sucesso decorre de muita dedicação e exercício. Todas dependem da VOZ, que deve ser firme, clara, agradável, expressiva, comedida e emocionada. CALIFASIA é a arte de tornar a palavra distinta, correta, expressiva e agradável.
6 - Tom - Quando o tom da voz do narrador é agradável, a história flui bem. Quatro defeitos devem ser corrigidos: voz rouca, dupla, grossa e excessivamente fina (voz de falsete).
7 - Timbre - A voz tem um certo timbre porque determinados hormônios acham-se presentes. O timbre tem origem nas cordas vocais e é modificado pelos ressoantes. Uma classificação superficial o identificaria como claro, nasal, áspero, seco, rouco, aspirado.
8 - Texto e vocábulo - Se o texto é adequado ao público, se cada palavra é proferida com propriedade, se o timbre de voz obedece aos sinais de pontuação, a apresentação já está fadada ao sucesso. Entretanto, se o que se pretende é acumpliciar o público e enredá-lo nas teias do encantamento, o grande aliado é a respiração, valorizando cada passo da narrativa.
9 - Silêncio - O silêncio tem o condão de preencher todos os espaços da emoção. É desafio, expectativa, susto, reflexão, esclarecimento, consolo, abertura e desfecho.
10 - Defeitos de dicção : gagueira, tartareio e balbuciência. A gagueira torna qualquer pessoa muito infeliz. Tem forte conexão com baixa-estima e perturbações familiares na infância. É facilmente corrigida com exercícios de canto. Quanto mais cedo, melhor. Tartareio é um vício de dicção presente na fala de pessoas incultas. A lei do menor esforço também cria oásis de comunicação, principalmente entre jovens, dentro de seu território . ...sa..ko..mé... (você sabe como é), ...fá...si...não... (não faz assim não), ...ô...num...gó..di...dô... (eu não gosto de doce). Balbuciência é a dificuldade manifesta na fala de pessoas muito tímidas ou mentirosas. É a repetição da mesma letra ou palavra, com interrupção do fio narrativo. A palavra não ocorre, a frase não se conclui. ...é... é... é..., aí ele... ele... ele... O balbuciente tem déficit de atenção.
11 - Tiques, cacoetes, estribilhos - Fungar, piscar, revirar os olhos, repuxar o queixo e o pescoço, aparar as unhas das mãos com as mãos, são tiques nervosos que comprometem o narrador e a narração. O pior de todos os cacoetes, e o mais recorrente, é ... aí, né... A televisão, que só deveria elevar a humanidade, tem às vezes um poder de massificação e imbecilização avassalador. Neste momento as expressões “teen” mais disseminadas são mano, cara e maneiro... Na dicção os estribilhos, palavras, expressões, são preferências pessoais: realmente... , faça ideia..., aliás... A ascensão financeira transparece no esforço de uma comunicação verbal mais apurada. Aliás, diga-se de passagem... , concorda comigo?...Sem falar no irritante ...meu amor... , ...meu bem... que pessoas recém-chegadas ao novo convívio utilizam com intimidade. A imprensa chama isto de bordão.
12 - Atenção e simpatia - Dispensar a todos os ouvintes a mesma atenção e simpatia sem privilegiar grupos , dirigindo sua fala e seu olhar a todos os participantes. Se a história permitir interação, que interajam ouvintes de toda a platéia.
13 - Fio narrativo - Jamais interromper o fio narrativo com advertências, mesmo que exista alguém perturbando a reunião. Deve ficar acertada previamente a presença de um professor ou responsável pelo público, durante o desenrolar da atividade. Como acontece no teatro, pode haver um “tirolês” na platéia, disposto a pôr a perder a performance.
14 - Retirar-se do palco ou da sala assim que terminar a narrativa. Dialogar com os ouvintes somente quando isto estiver previsto e acordado.
15 - Em casa, diariamente, fazer leitura em voz alta de textos literários.
1ª RECOMENDAÇÃO - Quando uma criança pede a palavra durante a narrativa, o contador deve avaliar rapidamente se aquela solicitação é urgente. Caso assim lhe pareça, interrompa a história e deixe que a criança relate sua própria experiência. Às vezes esta é uma decisão sábia.
2ª RECOMENDAÇÃO - Encerrada a história alguém pode discordar do enredo narrado e se propor a contar a seu modo. Este momento, de rara interação público-narrador, pode ensejar uma desconstrução da história original, o que é um ganho para todos os participantes e uma inequívoca demonstração de liberdade e democracia. É neste momento que as lideranças se revelam e a criatividade produz os melhores frutos.
Texto elaborado por Martha F. A. Pannunzio em 04-03-2012.
Bibliografia Consultada –
TAHAN, Malba – A ARTE DE LER E DE CONTAR HISTÓRIAS, 4ª Ed. – Editora Conquista, Rio de Janeiro, Brasil, 1964.